segunda-feira, dezembro 13, 2004

Caminhado e caminhante




Nem sempre conseguimos sentir o que sentimos. Temos que chamar a razão de vez em quando. Para afundar o sentimento e recomeçar. Olhar para trás. Ficar lá um bocadinho, amar mais uma vez o que amámos, respirar fundo. Ainda estamos vivos.

O sentir das coisas é sempre diferente. O espaço que habitamos dita-nos as regras e envolve-nos. Somos as presas do costume. Dou por mim a construir desejos debaixo de uma chuva incessante. Ruidosa. Perfurante. Alicerce por alicerce. E continuo a sentir-me na mesma. Vulnerável e forte. Caminhado e caminhante. Profundamente esgotado com a beleza que mais ninguém parece notar. Divorcio-me da tristeza. Caso-me com a melancolia. O papel branco das nossas vidas, ainda por assinar. É constrangedor. Eu sei.

Quando durmo sonho acordado. Cada pessoa tem o seu sonho acordado. Retiro de mim a dor física dos momentos em que me perco em ti. Sangue. Dentro de ti. Lamento a vontade de te amar. Desculpo-me. A sombra persegue a alma de quem nunca amou. Cimenta-a. Se é que isso é possível. Nunca ter amado.

Não vale a pena. Não vale a pena não valer a pena. O caminho que nos cruza e separa e nos aproxima ao mesmo tempo. Leva-me a tempo de me salvar de mim. De me salvar de ti. Faz o favor de me amares. Como nunca amaste. A borboleta nunca pousa na mesma flor.

Nunca me dás aquilo que preciso. Dás-me sempre aquilo que é suposto dar-se. Não chega. Começo a estar farto desta exigência. Desta minha exigência. Da obesidade dos sentimentos. Da angústia de ter que ser. Só porque tem que ser. Alguém disse uma vez que se alguém não tiver nada de belo para se dizer, nada mais belo que o silêncio, então que se cale. O silêncio afaga-me as palavras. Prende-as. O silêncio cria em mim a calma para enfrentar a tempestade. A sensibilidade de cada um choca com a necessidade de se ser feliz. Volta-se sempre ao ponto de partida. De forma diferente. Mas volta-se. A infinitude da alma faz confusão. Mesmo não acreditando nas palavras, elas batem forte. Como se fosse a primeira vez que as ouvimos. E a última.

Decidi não perder mais tempo. Sinto. Digo. E acabou.

Faz-me falta o teu sorriso. Agora e sempre. Porque reflecte nos meus olhos. Ficam mais bonitos. Mais verdadeiros. Mais. Mais. Mais de ti para mim. Para mim. Mais.

Mais.

13 Comments:

At 3:12 da manhã, Blogger António Balbino Caldeira said...

Rui

Continue! Gosto muito. Íntimo demais para o que consigo, mas muito bem escrito e, mais!, sentido.

Escrevia também lá pelas minhas leiras Do Portugal Profundo, uns textos meio biográficos, mas o nível dos insultos do atingido grupo da desinformação, não os aconselha.

Siga esta linha que me parece coerente.

 
At 10:14 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Que posso dizer-te? Adorei!
Onde foste buscar inspiração? :)

Teresa

 
At 12:14 da tarde, Blogger R.Santos said...

Obrigado pela visita António....Pela visita e comentário...

Gosto muito do seu Blog também.Imparcial (dentro do possível pois somos humanos), claro e perturbador...

Sempre gostei desses ingredientes associados a uma terminologia muito própria.

Continue...Acredite que nada de mal lhe acontecerá...
Mesmo se soubesse que aconteceria, tenho a certeza que não desistiria,por isso....!

Força! :)

 
At 12:16 da tarde, Blogger R.Santos said...

Obrigado Teresa! :)

Estava a pensar que não tinhas conhecimento do meu Blog....

A inspiração vem de tudo um pouco...De momentos felizes e menos felizes...Tu és,vocês são parte dela também...

Fico feliz por teres gostado...Beijinho! :)

 
At 3:49 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Tu sabes,eu sei, nós sabemos que fui a tua primeira fã...!
Lembras-te do livro em branco que te ofereci para não escreveres em papelinhos dobráveis e dobrados até mal se verem...nos bolsos das calças...na máquina de lavar...?
Um beijo,meu filho,eu não me inquieto...Conheço-te,crescemos juntos...
Comentei este porque gostei ainda mais!

 
At 5:08 da tarde, Blogger R.Santos said...

Obrigado mãe...

Sim...Foste a minha primeira fã e aquela, cuja opinião, deu mais sentido ao que escrevi e escrevo....

Lembro-me do Livro em Branco...Tens razão! :)

Agora tenho um substituto...:)

Obrigado por tudo...A minha forma de expôr as coisas são um bocado de ti também...Tu sabes! :)

Beijo Ennooorrmeee! :)

 
At 11:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Lindo, Meko!
Estou um bocadinho "babado"...!
Continua.
Beijos

 
At 11:37 da tarde, Blogger R.Santos said...

Obrigado meko! :)

"Babado" estou eu depois de ler estes comentários todos.... :)

Grazzie :)

 
At 7:39 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Cum carago! :) É caso para dizer " o Pedro Paixão que se cuide... "!Na verdade, arrepiei-me toda enquanto lia. Não só este, mas todos. Mas este especialmente...bonito de se ler. Com sentimento. Tal como tu.

Um beijo enorme da mana
Su

 
At 7:01 da tarde, Blogger R.Santos said...

Obrigado mana... :)

Espero que a inspiração continue a proporcionar comentários como este :)

Beijo grande! :)

 
At 1:59 da tarde, Anonymous Anónimo said...

É impressionante como foi fácil identificar-me com estas palavras, tão tuas, mas tão minhas ao mesmo tempo. Certamente haverá quem se veja retratado em algum dos sentimentos que tão bem descreves. Continua tão transparente na escrita como na vida.
Bjs e continua. Um dia serás recompensado, tenho a certeza.

 
At 2:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

É impressionante como foi fácil identificar-me com estas palavras, tão tuas, mas tão minhas ao mesmo tempo. Certamente haverá quem se veja retratado em algum dos sentimentos que tão bem descreves. Continua tão transparente na escrita como na vida.
Bjs e continua. Um dia serás recompensado, tenho a certeza.

 
At 2:52 da tarde, Blogger R.Santos said...

Obrigado....É reconfortante saber que o que escrevo faz sentido para mais pessoas...Obrigado pela força, pelo ânimo,por tudo :)

Beijo :)

 

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