Almar

Esqueço a vida que tenho e levo. Por momentos.
Sei que não o vou conseguir por muito mais tempo. Esquecer a lágrima. A alma da lágrima. O ser assim.
Não tenho culpa de me ter como sensível. De te ter como sensível. Quando se cai, cai-se mesmo. Às vezes é bom cair. E fazer a terapia à alma como deve ser. Palavra nova no dicionário.....
Almar.
O cheiro das azálias deixa-me indisposto. Falam-me de ti. Na esfera dos anjos que acreditam em mim. Sinto o teu pulsar na minha cabeça e no meu antebraço. O pulsar dos anjos em sintonia com as ondas do mar que me traz a alma a reboque. Aos poucos. Para ti.
A última vez que falei contigo cresci um bocadinho. Tinhas ainda o cabelo preso, atado, amachucado das noites de amor. Das nossas noites de amor. O brilho era diferente. O brilho dos teus olhos. Sempre diferente. Escusas de me falar de amor.... disseste, à medida que apoiavas os cotovelos na mesa e olhavas para o homem que fumava por detrás de mim. No decote, o teu fio azul, de influências marroquinas a brilhar para mim. Escusas de me falar de amor, meu querido...., dizias enquanto o teu fio brilhava para mim. Há sempre qualquer coisa que usas que chama por mim.
Escusas de me falar de amor, meu querido....Sabes bem que detesto lamechices, embora tenha querido provar-te o contrário. Nunca mais me vais ver suar de amor. Nunca mais..... Disseste.
Dói.
Saímos para a tua carrinha Volvo. Nove lugares. Para os nossos filhos pensei eu, na altura em que ainda pensava na função emotiva das carrinhas. Ter filhos. três ou quatro. Mais tu e eu. Mais o cão grande. Mais amor. Mais amor. Mais amor.
Agora compreendo o teu silêncio. Já não imploro que fales. Que me digas coisas bonitas. E que as sintas quando te falo ao ouvido, ou ao pé da boca, à procura do teu beijo condicionado às palavras que possas ou não gostar. Gostar não. Tolerar. Porque é isso que fazias e fazes. Tolerar. Como a vaca tolera o mosquito no lombo. Estás demasiado ocupada para sentires o que quer que seja. Quanto mais o amor. O amor que engrossa a alma. E a faz suar, transbordar de lágrimas desgarradas de todos os vícios que aprendemos. O ser puro. Tal e qual. A exigência é grande. Deste mundo e do outro. Só eu mesmo.
Cravas-me as unhas na pele para me sentires dar-te prazer. Fulminas-me o gosto, fazes-me fulminar-te o rosto. De desafio em desafio crias em mim o vazio de ter que te amar até ao fim. Porque amar-te é vazio, meu amor. Um vazio dócil que chama o teu nome. Visível apenas porque me dou ao trabalho de o mostrar. De te mostrar. O ponto de retorno é teu. O sonho que mataste é meu. E o chão que pisamos não é o mesmo. Nunca mais vai ser o mesmo. Mas nem tu nem eu o sabemos.
Ainda.
4 Comments:
Sobre este,e por ignorância,fiz o comentário em directo porque o achei lindíssimo,intimíssimo...
Agora que já sei,deixo-te mais um beijo de incentivo
Mãe
Obrigado mais uma vez mãe.... :)
Eu não sei. Mas comento. Vê-se que é sentido. Sente-se...Muito bonito. Só isso, Meko, muito, muito bonito.
Beijos
Não é difícil sentir Meko...Nada difícil.... :)
Obrigado mais uma vez....
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